NBA DRAFT 2019
Transito caótico de quinta-feira às 17:00 hs em Nova York e para completar a chuva caía sem piedade. Levei uns 45 minutos da Brooklyn Bridge até o Barclays Center e estou falando de apenas 4km. Nas ruas as pessoas corriam procurando um abrigo, algumas sem guarda-chuva resolveram encarar a tempestade. O limpador do carro a mil por hora e quase não dava para enxergar. Passei por uns caras carregando o tripé no ombro e o outro protegendo a filmadora com seu casaco, tentando atravessar a Atlantic Avenue, rua do Barclays Center. Tive a impressão que estavam indecisos se seguiam enfrente ou procuravam um abrigo. Finalmente cheguei ao estacionamento do outro lado da rua do Barclays, desci, parei o carro e pensei “putz como vou atravessar a rua? Vou ficar todo molhado!” Resolvi pagar para ver. Entrei no elevador, subi até o andar principal e quando abro a porta que dá para rua, o sol botando a cara de fora entre as nuvens. Cara, o sol!! Sinal de sorte?…Não sei, mas naquele momento senti um alívio e a impressão que seria um bom dia.
Na frente do Barclays Center tinha uma multidão aguardando o portão abrir, alguns ainda com o guarda-chuva aberto, preparados para qualquer surpresa.
Esse foi um daqueles drafts que antecipadamente sabíamos quem seriam as grandes estrelas, liderado por Zion Williamson a primeira escolha do New Orleans, jogador que chega `a NBA gerando comparações ao LeBron James. A expectativa era de muitas trocas, o que acabou acontecendo. Uma dessas trocas foi a quarta escolha, que pertencia ao New Orleans (originalmente do Los Angeles Lakers/troca do Anthony Davis). Nessa troca o New Orleans ficou com as escolhas 8, 17 e 35. O Atlanta adquiriu o direto da quarta escolha e escolheu De’Andre Hunter. O New Orleans ficou com 3 escolhas e uma delas a 35º estava destinada ao Brasileiro Marcos Louzada Silva, conhecido no basquete brasileiro como “Didi”.
“No momento eu estava um pouco nervoso, mas quando anunciaram meu nome, o que veio na minha cabeça foi aquele menino de Cachoeiro de Itapemirim que saiu lá do Espirito Santo para um dia chegar na NBA. Um momento indescritível para mim”- Didi
Didi abraça sua mãe após ser anunciado o seu nome.
DIDI ESTAVA NO RADAR DE VÁRIOS TIMES
Durante os dias que antecedem o draft, os times da NBA fazem um teste de avaliação com os prospectos inscritos. Não foi diferente com o Didi. O brasileiro que tinha acabado de disputar a final da NBB por Franca, chegou com vontade de mostrar o seu jogo e querendo abraçar a oportunidade com braços e pernas. Cleveland, Milwaukee, Brooklyn, San Antonio eram alguns dos times interessados.
Didi chegou a fazer treinos no Cleveland Cavaliers, San Antonio Spurs e foi muito bem. No treino no Milwaukee Bucks Didi teve uma leve torção no tornozelo que foi um balde de agua fria. A torção o limitou a treinar e com isso passou os últimos 5 dias antes do draft fazendo tratamento no tornozelo, impedindo que se apresentasse para alguns times, incluíndo o Brooklyn que já havia enviado Tiago Splitter (scout do Nets ) em fevereiro `a Republica Dominica para avaliar o Didi durante a classificatória para a Copa do Mundo FIBA 2019.
Mesmo sem fazer os treinos, o interesse do San Antonio Spurs, Milwaukee Bucks e Brooklyn Nets era grande e tudo indicava que Didi seria escolhido na primeira rodada, com Brooklyn (27º escolha), San Antonio (28º) e Milwaukee (30º). Porém, durante o draft muitas trocas aconteceram e alguns jogadores projetados para ficar entre as 15 primeiras escolhas ficaram para trás e acabaram tendo prioridade na escolha.
Milwaukee fez uma troca com o Detroit. Colocou a 30º escolha e Tony Snell na troca por Jon Leuer;
Brooklyn trocou sua escolha (27) com o Los Angeles Clippers pela 56º escolha e uma escolha na primeira rodada de 2020. E escolheu Nicolas Claxton na 31º (projetado para 24º escolha)
San Antonio escolheu Keldon Johnson (projetado para ser escolhido em 15º).
Com direito a 35º escolha (troca com Atalanta) David Griffin, General Manager do New Orleans, não quis deixar passar a oportunidade e escolheu Didi na 35º posição no draft, provando que o Didi já estava no radar de vários times.
É GARANTIDO O DIDI FICAR NA NBA?
Os jogadores escolhidos na segunda rodada não tem contrato garantido como acontece com os escolhidos na primeira rodada. Isso é um fator que muitas vezes faz com que jogadores do basquete universitário que não estão confiantes que serão escolhidos na primeira rodada, retirem seu nome do draft (antes da data limite para confirmação). Se mantiverem seus nomes no draft e não forem escolhidos, perdem o direito da bolsa de estudos nas universidade.
No caso do Didi, seu contrato só poderá ser negociado a partir do dia 6 de julho quando oficialmente os times da NBA podem assinar com jogadores, fazer extensão de contratos e completar as trocas.
Tudo indica que Didi passará por uma fase de adaptação e desenvolvimento e provavelmente será enviado para a G-league, no caso do New Orleans o time é o Birmingham Hoops. Mas tudo vai depender de como será seu desempenho na Summer League que começa no dia 1º de julho em Las Vegas.
E’Twaun Moore, Josh Hart, Nickeil Alexander-Walker, Ian Clark, Dairis Bertan, Trevon Bluiett são os jogadores que jogam na posição de Didi que estarão brigando por uma vaga no Pelicans.
Um estudo da NBC Sports aponta que nos últimos 6 anos, 69% dos jogadores escolhidos na segunda rodada receberam oferta de pelo menos o salário mínimo de calouro, o que para a temporada de 2019/20 esta projetado para US$897.158.
Para uma noite que começou com uma tempestade, no final acabou brilhando a luz do Didi, que ja é um vitorioso por ficar entre os 35 dos 60 atletas no draft da NBA e isso o coloca entre os melhores do mundo na sua idade. Agora é trabalhar!
fabio malavazzi e Didi Louzada Silva.